segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Ciao!

Há mais ou menos 2 meses, recebi a notícia de que havia passado em um processo seletivo que me concederia a oportunidade de vir estudar na Itália. Resolvi que iria, então, retomar com o blog para contar sobre a minha experiência daqui, mas ao começar a resolver os trâmites, ainda no Brasil, me deparei com uma série de dificuldades sobre as quais não encontrei nada na internet para me direcionar, então decidi que contaria, antes de tudo, como foi a minha experiência pré-viagem.

Eu tinha algumas coisas a resolver: passagem, onde morar, visto, seguro saúde... A passagem eu pesquisei muito e o lugar onde consegui comprar mais barato, economizando cerca de 1500 reais, em comparação com o Google Flights informava, foi o Voe Legal, que tem parceria com a OAB. Poucos advogados conhecem, e pode fazer a diferença. Acho, mas não tenho certeza, que advogados podem comprar para terceiros.

Quanto ao seguro saúde, usei o do cartão de crédito (na postagem que fiz sobre o Nubank, falei sobre ter adquirido nos tempos áureos em que os roxinhos ainda eram Platinum, o que concede o benefício do seguro viagem), mas como ele vale por um ano, contado da aquisição da passagem, mas por no máximo 30 dias em cada viagem, por si só não seria suficiente. Assim, após muita pesquisa, decidi que o mais vantajoso para mim seria adquirir suplementarmente o IB-2, que é o convênio entre o Ministério da Saúde e os sistemas públicos de saúde de Portugal e da Itália. Mais adiante, vou falar mais sobre como adquirir, mas adianto que, se a demanda for por um seguro que cubra despesas na rede privada, este não será útil, por dar acesso apenas ao sistema de saúde público do país, como os cidadãos destes países têm direito.

O VISTO

No que diz respeito ao visto, este foi um parto para conseguir. Pra requerer, é preciso fazer um agendamento no site da embaixada, mas este agendamento nunca está disponível. A sorte é que uma das meninas que vieram comigo conhece um pessoal que já fez o processo e nos ajudou a saber o dia e o horário que o agendamento abre (não, o site não informa. Você tem que "adivinhar"). Feito o agendamento, tive que ligar na embaixada (processo que dura cerca de 5 minutos só para ser direcionado para o setor correto, dado o número de gravações que você tem que ouvir), a fim de alterar a data, porque a que eu consegui no agendamento (10 de setembro) era muito em cima da data de início das aulas (1º de outubro). Não posso dizer que a pessoa que me atendeu tenha sido a mais simpática do mundo, mas, ok, ela me passou o e-mail para onde eu deveria enviar minha solicitação e a resposta veio em cerca de dois dias, mudando a data para 30 de julho, de 9 às 12.

Após isso, checagem da documentação necessária para requerer o visto. Perfeito, o site da embaixada tem um espaço dedicado a isso e era uma curta lista de documentos. O problema foi que, ao conversar com as outras pessoas que vinham, uma delas disse que um amigo teve requerida uma lista muito maior, com passagens de ida e volta, comprovante de hospedagem, dentre outros que não constavam no site. Achei melhor confiar, apesar de achar estranha a divergência. Dito e feito. No dia do agendamento, cheguei com algumas horas de antecedência por recomendação de uma amiga, que disse que o horário não importava muito. Cheguei às 10, mas não havia crachás disponíveis, pois muitas pessoas já estavam lá dentro aguardando.

A surpresa maior foi que resolveram agendar uma reunião com todo o pessoal justo no limitado horário de atendimento (8 a meio dia), o que fez com que eu e mais algumas outras pessoas tivéssemos que ficar esperando até 12h30m na porta da embaixada, sem água, debaixo do sol... Triste, mas "é assim, mesmo". Ao entrar, fiquei mais algum tempo esperando (horas), e ao checar minha documentação, segundo a atendente, eu não tinha comprovante de fundos o suficiente e, mesmo tendo emprego e meu próprio negócio, deveria obter uma carta do meu pai, registrada em cartório, informando que ele proveria todos os recursos que me fossem necessários, bem como os meios por onde seriam feitos os depósitos (contas etc), e ela ficou com uma cópia da fatura do cartão do meu pai... Muito inconveniente. Detalhe: não há um modelo de carta, você tem que elaborar um e voltar, torcendo para que seja suficiente. Ao final, saí de lá às 15 (cheguei às 10, meu agendamento era pra 11 e meu expediente no escritório começava às 12. Você deve tirar o dia, caso precise ir à embaixada. Mesmo).

Na segunda-feira subsequente, retornei, com a carta requerida. Fiquei mais um tempão esperando, dessa vez, felizmente, dentro do prédio. A atendente era outra, uma vez que o mandato da anterior estava se encerrando. Por "sorte", aquele era o primeiro dia da novata e ela estava claramente perdida, e muito descontente com isso. Reclamou com um colega que eu não falava italiano, e como isso era um absurdo, vez que eu estava vindo estudar. Detalhe, ela mora no Brasil e, veja só! também não fala português. Bom, agendou meu retorno para retirada do visto para o dia 20 de agosto (já era dia 6) agosto), e neste dia eu fui buscar e surpresa! o visto não estava pronto porque eles estavam tentando contato com a universidade para confirmar algum dado. Eles não deram maiores informações, mas o que foi mais estranho foi que o de outra menina que vinha conosco foi emitido no dia 6 de agosto, e ela tinha levado exatamente a mesma documentação que eu. Bem discricionário.

No dia 21 de agosto, recebi uma ligação de uma funcionária da embaixada que falava português, a pedido da funcionária que não falava, dizendo que eu deveria tentar contato com a universidade, pois a embaixada havia-lhes enviado e-mail no dia 8 de agosto, mas ainda não tinha recebido resposta. Estranhamente, eu tive que explicar a ela que era Ferragosto e, portanto, ninguém estava trabalhando na universidade naquele período, até mais ou menos o final do mês. Depois, recebi nova ligação da embaixada dizendo que eu deveria alterar a data da minha passagem porque, por algum motivo desconhecido, a universidade, a despeito de o programa ser de 12 meses, me deu uma carta de aceite de apenas 6 meses e minha passagem de volta ultrapassava esse período. Assim, entrei em contato com a universidade, que me informou ter enviado nova data com período certo para a embaixada, o que me fez ir até lá para mostrar esse e-mail trocado entre nós. Ao chegar, contudo, a funcionária-que-não-fala-português foi lá dentro checar o e-mail e, qual não foi a minha surpresa, ao ver que a universidade tinha enviado a carta com o mesmo período de seis meses. A funcionária, então, me informou que eu deveria alterar a data da minha passagem para março e que retornasse dia 13 de setembro (minha passagem era pro dia 19) com essa alteração, caso contrário, ela não me entregaria o visto.

Por algum motivo desconhecido, a LATAM cancelou meu voo de volta, o que me daria a oportunidade de alterá-la sem custos por todo o período de validade do bilhete (até 12 meses a partir da data da compra). Com essa carta na manga, tinha duas opções: comprar outra com data de março e, se fosse o caso, cancelar em 24h, conforme previsão da ANAC ou usar minha alteração grátis. Para evitar ter o trabalho de resolver qualquer coisa caso o cancelamento desse errado, decidi usar a minha alteração grátis e, qual não foi minha surpresa ao chegar na embaixada no dia seguinte e descobrir que a universidade tinha emitido nova carta de aceite com o período de 10 meses e, portanto, eu não precisaria ter feito alteração. Enfim, ainda que houvesse nova carta e que minha passagem compreendesse período dentro do limite concedido pelo visto, eles não emitiriam, porque havia divergência de informações e, então, precisavam de datas claras de ida e retorno, coincidentes com as das passagens, para que os vistos fossem emitidos com as mesmas datas.

Nosso professor, quem organizou o convênio entre as instituições teve, então, de intervir, entrando em contato com o pessoal da universidade para que esta emitisse, com máxima urgência, novas cartas, pela enésima vez, com datas precisas, caso contrário, não emitiriam os vistos a tempo. Frisando, era dia 13 e minha passagem era pro dia 19, mas uma amiga estava em situação pior: ela embarcaria dia 15 e ainda não tinha o visto, também! Um parêntese: como dito no começo do texto, eu tinha que tirar o IB-2 no Ministério da Saúde, mas para isso precisava do passaporte, que estava retido na embaixada desde o dia 30 de julho. Por sorte, a funcionária, que a esta altura já era como uma velha conhecida, me "emprestou" o passaporte, para que eu fosse ao Ministério, devendo devolvê-lo em seguida. Fui, resolvi tudo em 10 minutos, devolvi o passaporte e fui ao cartório para reconhecer firma do seguro e apostilá-lo a tempo, pois só fica pronto de um dia para o outro.

No dia seguinte, apesar de ter recebido aviso para retirar o visto na segunda-feira, dia 18, retornamos à embaixada, eu, o professor e a minha amiga, a fim de retirá-lo. Ao chegar, minha amiga estava saindo com o dela, e havia dado tudo certo, Subi, então, às 11, a afim de retirar o meu, e fui recebida com um sorriso pela funcionária que me disse, como se fosse excepcional, que me entregaria em breve o visto. Para minha surpresa, após esperar cerca de duas horas, ela retornou dizendo que o meu visto só ficaria pronto na segunda, mesmo. Mas que eu não me preocupasse (!!!!) porque não tinha nenhum perigo de não dar certo. Era a sétima vez que eu ia à embaixada, não tinha como confiar na informação dela, mas eu não tinha outra opção, tinha?

Na segunda, fiquei "apenas" uma hora esperando e, FINALMENTE, consegui o visto. Quase não acreditei. E, acreditem, a previsão de retorno não era de 6, nem 10 meses, mas sim de 365 dias. Enfim, uma vitória!

O APARTAMENTO

O episódio Visto foi tão conturbado que o Apartamento vai parecer besteira, se comparado. Agora, imagina ter que resolver visto, apartamento, seguro, trabalho (porque até o dia 14 eu trabalhei) e organizar a vida pra mudar por um ano, tudo de uma vez? Enfim...

No começo, eu e mais três amigas que foram aprovadas no processo resolvemos buscar algo para morarmos juntas, mas era difícil entrar em acordo sobre as prioridades e encontrar um espaço que acolhesse todas. Poucos lugares em Roma têm tantos espaços disponíveis num mesmo lugar. Após muuuuuuita pesquisa e energia investidas, percebemos que seria mais fácil buscar cada uma por si.

Morar em Roma é muito caro. Ok, pra quem ganha em euros, não deve ser, mas pra fazer a conversão do Real pro Euro, é, sim. Um quarto não sai por menos de 400 Euros + contas, em lugar nenhum. Além disso, é muito difícil encontrar alguém que alugue quarto por mês, porque os contratos são, em sua maioria, de longo termo. A universidade tem parceria com uma imobiliária que faz intermediação de contratos de aluguel, mas é muito difícil estabelecer uma comunicação fluida com eles, além de que eles dizem que os proprietários não costumam fazer contratos de curto período. Como fazer contrato de longo termo para morar num lugar cujos coabitadores, o prédio, a vizinhança e o bairro você não conhece? É complicado. Comecei, então, a buscar soluções alternativas. Encontrei uma residência estudantil perfeita num site onde o tempo mínimo estabelecido era de um mês. Não era pertinho da universidade, mas o valor era muito bom, então compensava. Caí na besteira de colocar que era estudante e, então, no outro dia recebi uma ligação do site informando que, como eu era estudante, só poderia alugar por pelo menos 6 meses. Como argumentar que no site dizia outra coisa quando você não conhece as leis do país? Não teve conversa, perdi o quarto.

Encontrei, depois, um apartamento perfeito pelo Airbnb, e, mesmo sendo mais caro que o anterior, enviei uma solicitação para ficar por um mês. Estou até hoje aguardando a resposta do proprietário...
Após, já extrapolando, em muito, o valor estimado para ficar um mês, encontrei um novo quarto, com três camas, onde fiz todo um esquema com os outros colegas que viriam, para que pudéssemos dividir por alguns períodos, e, após resolvido, fiz a requisição, mas o proprietário me informou que o quarto já estava alugado, por outra plataforma, pelo período requerido. Era muito estressantes estar a menos de uma semana da partida sem um lugar para passar, ao menos, os primeiros dias, quando encontrei, bem acima do orçamento, um apartamento de uma garota pelo Airbnb e, após trocarmos algumas mensagens, decidi ficar com ela, porque era um lugar legal, relativamente central, e, importante pra mim, perto do metrô. Descobri, depois, que tínhamos quase a mesma idade e que ela também é advogada!

Chegando, me deparei com um lugar muito acima das minhas expectativas, um apartamento perfeito, num prédio antigo e bem nobre, onde mora uma garota bem legal e hospitaleira e uma Pitbull incrível! Conto mais sobre essa experiência nas próximas postagens.